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3 dicas importantes para considerar sobre a humanização dos animais

Humanização dos animais: quais os riscos desse comportamento?

Fundo vermelho com bolhas
Com a aproximação dos animais a rotina dos adultos e o convívio ainda mais intenso, a humanização dos animais se tornou assunto para debate. Quando podemos – e devemos – tratar os bichinhos como membros da família?

Chamar de filho, fazer festa de aniversário, um armário de roupinhas, carrinho de bebê e mais um montão de mimos… Existe um limite para a humanização dos animais? O assunto é bastante discutido e pode ser super polêmico – por isso, trouxemos opiniões de diferentes lados para você entender um pouco mais sobre esse fenômeno.

Embora não exista apenas uma forma específica de como cuidar de gato ou cachorro, a publicitária Fernanda Penha Dias, 48 anos, garante que a prática da humanização de animais que realiza é um dos principais motivos pelos quais é criticada nas redes sociais, embora receba apoio da família e amigos. "São pessoas que agem como eu, não sofro críticas".

Fernanda é "mãe" de dois cachorrinhos – e garante que são seus filhos como qualquer outra criança. Os dois recebem presentes de Dia das Crianças, Natal, festa de aniversário, roupinhas – e vão à creche, inclusive com roupinhas especiais para as datas comemorativas. Pink, uma das cachorrinhas de Fernanda, chegou a ela quando trabalhava em uma ONG protetora de animais.

"Foi naquele instante em que ela veio no meu colo pela primeira vez que me senti mãe", conta. E sobre a humanização dos pets, vai além: "A Pink viveu 12 anos, teve 12 festas de aniversário, participou de todos os amigos secretos da minha família no fim do ano, tinha guarda-roupa com diversos looks do dia, a melhor cama de princesa, dormia comigo e comemorava dia das mães. A minha vida passou a girar em torno dela como uma mãe", diz a publicitária. "Porque eu sou mãe! Aliás, não consigo conceber que ela teve uma mãe e um pai cachorros, isso não entra na minha cabeça por mais que eu saiba que eram."

Fernanda ainda se defende de alguns "exageros", como chamar os bichinhos de bebês. "Para mim, eles são meus filhos", defende Fernanda, que acredita nos laços criados com o cachorro humanizado. 

Humanização animal x instinto

Ao aprender como adaptar o cachorro ou gato ao novo lar – e qualquer outro bichinho domesticado – observar a personalidade do pet é fundamental para estreitar os laços da relação. 

Flávia Cardozo, fisioterapeuta, usa Nala, sua cachorrinha de 7 anos, como exemplo quando precisa simbolizar os hábitos saudáveis para algum paciente. 

"Ela dorme quando sente sono, come só quando sente fome, sente necessidade de se exercitar toda vez que me pede para jogar a bolinha e fica feliz sempre que tem um pouco mais de contato com a natureza, curte demais uma ida ao parque", disse. Flávia, que também tem a gata Anita, 4 anos, e três passarinhos (Flora, Gucci e Dolce), todos adotados, afirma ser contra a humanização dos animais de estimação.

"Acho desnecessário primeiro porque é mais uma necessidade da pessoa do que do pet e segundo porque não acho saudável. Dou o melhor tratamento que posso, são meus maiores companheiros. Falam até que mimo demais, mas faço de tudo para que tenham uma vida feliz e saudável"

A veterinária Katia De Martino da rede Petz, defende o limite saudável para que todos estejam em pleno bem-estar. "Claro que o contato com o cão é muito prazeroso para os humanos, libera um hormônio, a ocitocina, que dá uma sensação de prazer e isso é muito bom, porém existe um limite". Katia defende o ponto que a humanização de pets pode acabar por oprimindo o animal de realizar atividades que são comuns do seu dia a dia.

"As pessoas acabam mimando muito e a perda dos hábitos e instintos começa a criar alguns desvios comportamentais como agressividade, ansiedade de separação (o cachorro não fica sozinho), medos e alguns problemas de compulsão"

Qual o limite para humanizar cachorro ou gato? 

"Pet é pet, humano é humano, eles têm outras necessidades diferentes das nossas. Além disso, é uma necessidade sua e não dele", diz a confeiteira Nathaly Cristina Leo, a humana responsável pelos gatinhos Fred e Frida. 

Eles moram em uma residência com muros cercados para que não corram perigos – comem petiscos e ração, dormem com Nathaly e recebem carinho. Mas, esse é o limite. Para Nathaly, humanizar é ignorar a natureza da espécie: "É achar que os animais precisam de festa de aniversário, creche, spa, e querer o retorno desse tratamento. Ou só para gerar conteúdo digital e inflamar o ego de seus 'pais'".

A veterinária comportamentalista e doutora em Psicologia Ceres Faraco, analisa o vínculo entre homens e os bichos. "Obviamente que esse vínculo é dinâmico e vai ter configurações diferentes ao longo da história da humanidade, mas a questão é que não nasceu agora. Novos estudos indicam que houve um esforço evolutivo das duas espécies para conviverem porque haveria benefícios para ambas". 

Enquanto os cães ganharam abrigo, alimentação e proteção, os humanos garantiram a interação social, também importante para a espécie canina. "Os processos comunicativos através da compreensão vêm evoluindo a tal ponto que os cães são capazes de reconhecer feições humanas e interpretá-las. Eles também mantiveram comportamentos e configurações anatômicas mais infantis ao longo da vida adulta porque isso se demonstrou benéfico".

Vida familiar também com os gatinhos

Os gatos também passaram a ser tratados com ainda mais carinho pelos seus donos, principalmente por serem reconhecidos como seres independentes e temperamentais. Essa aproximação, principalmente por parte dos humanos, pode ser vista como uma prova de que os gatinhos, na realidade, adoram seus donos. 

Alguns excessos que acontecem com os gatos, porém, devem ser evitados. Enquanto cachorros podem tomar banho livremente, gatos possuem necessidades de higiene diferentes. Por exemplo, usar as toalhas umedecidas da Cafuné são mais indicadas do que o banho nos gatinhos, que também exigem caixinhas de areia limpa para se sentirem seguros e confortáveis. 

A veterinária Ceresgarante que a estrutura da casa é fundamental para que eles possam manter os instintos. "Alguns são extremamente sociais, outros menos, mas de qualquer forma é preciso garantir características importantes no manejo da casa para que eles se sintam confortáveis com lugares elevados, rotas de fuga e caixinhas de areia separadas dos pontos de comida". 

Com a pandemia e mais tempo em casa, as relações com os bichinhos mudaram e os pets na quarentena também se aproximaram ainda mais de seus donos. Porém, vale analisar comportamentos e entender melhor a forma com que você se relaciona com o seu pet. Lembre-se: o ideal é sempre encontrar um laço saudável, para que ambos se sintam mais confortáveis com períodos longe de casa, entre outras questões comuns do cotidiano.

E você, possui um gato humanizado em casa ou um cachorrinho que é tratado como filho?